“Esconder-se é um
prazer,
Mas não ser
encontrado é um desastre”
Winnicott
Inícios e fins
são das coisas mais naturais que acontecem nas nossas vidas, o ciclo
inalterável da vida, e, no entanto, são, também, das coisas mais difíceis que
experienciamos. Se o fim de algo nos provoca uma sensação de perda, digno de
vários estudos e artigos para compreender o seu impacto na nossa vida, o início
provoca a sensação de descoberta, de explorar o mundo e o contexto exterior em
busca do nosso lugar.
A verdade é
que os inícios passam bastante despercebidos, quando comparados com os fins, no
entanto, são tão, ou, até, mais importantes do que eles. É no início da nossa
vida que descobrimos tudo, mas este sentimento de descoberta, de aprendizagem
mantém-se ao longo de toda a vida. Basta pensarmos no momento em que iniciamos
um novo trabalho, em que formamos uma nova amizade, em que nos aventuramos numa
nova relação amorosa… o desconhecido aguarda-nos a cada passo, e este pode ser
bastante assustador.
Os inícios são
sempre momentos de autoconhecimento; é ao conhecer o outro que nos conhecemos,
também, um pouco melhor a nós. O problema levanta-se quando um dos lados não
está disponível para esta dança complexa, que envolve passos muito cuidadosos
dos dois parceiros, e, perante o medo do que o desconhecido pode trazer, dos
erros que podem ser cometidos, foge da relação sem perceber bem porquê.
Escondemo-nos
do outro, do seu olhar de avaliador, com medo do que de lá poderá vir, sem nos
apercebermos que, ao desinvestirmos de tal modo dele, ele poderá desinvestir,
também, de nós. Se as relações são um trabalho a dois, esta característica está
ainda mais saliente no início delas, passando, mesmo assim, despercebida, ao
ter de lutar pela ribalta com o medo que sentimos de nos darmos a conhecer, que
traz consigo a possibilidade de uma rejeição do que somos. No entanto,
esquecemo-nos que, ao escondermo-nos do outro, corremos o risco de que o outro,
já rejeitado e com medo de o ser novamente, não nos procure, e acabamos a
interpretar essa desistência como uma rejeição, quando nada mais é do que uma
resposta adequada à mensagem que enviámos: não me procures.
Queremos ser
procurados e assegurados de que temos um lugar no mundo da outra pessoa, no
entanto, fugimos com medo de descobrir se temos, pois há a possibilidade da
rejeição, do abandono. Privamo-nos do prazer de ser encontrados, pelo medo de
não sermos, ou de sermos e não sermos aceites. O outro passa a ser este monstro
de sete cabeças, que age como juiz, júri e carrasco, sem misericórdia pelo
imperfeito, que todos nós carregamos dentro de nós. Escolhemos esconder-nos tão
bem que não permitimos que nos encontrem, mas será que não nos impedimos de
encontrar não só o outro, mas também a nós mesmos?
A que custo
nos escondemos do mundo? O que poderá tornar todo este desconhecido suportável
o suficiente para arriscarmos ser encontrados? O que precisamos para nos sentirmos
seguros o suficiente para desbravar o desconhecido e descobrirmos todas as
versões de nós mesmos que ainda podemos ser?
“Escondermo-nos
é um prazer, mas não ser encontrado é um desastre”, dizia Winnicott, o que
significa mais do que só não ser encontrado pelo outro; significa, também, não
o encontrar, nem nos encontrarmos a nós. E que verdadeiro desastre é não nos
encontrarmos a nós mesmos, por medo que o outro nos possa encontrar e rejeitar,
acabando, nós mesmos, por nos rejeitarmos antes que o outro tenha qualquer
hipótese de o fazer. Afinal, o que acontecerá se nos permitirmos aceitarmo-nos
ao ponto de arriscar que o outro não o faça? Não valerá a pena descobrir essa
resposta?
“How frightened we are of being
known,
and yet how desperately we long for
it.”
Hannah Kent