Fantasiar e Sonhar: um bem necessário e imprescindível

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Numa sociedade em que o “normal” é ter muito para fazer, é frequente assistirmos a crianças que se encontram totalmente esgotadas e assoberbadas com a quantidade de atividades escolares e extracurriculares que têm para fazer. Como, se cada vez mais, lhes fosse exigido terem uma agenda de adultos, num corpo de crianças. 

Os adultos, cada vez menos possibilitam a existência de tempos e espaços em que não “haja nada para fazer”, como se isso significasse que o tempo está a ser mal aproveitado e, que desta forma, isso não se reflita em resultados quantificáveis a curto prazo.  

Na maioria das vezes, é nestes momentos, sem imposição da realização de atividades, que é possível às crianças serem donas do seu tempo e, que possam fazer e ser nele, tudo aquilo que elas quiserem, promovendo assim as suas capacidades de fantasiar. 

Entenda-se que este é um processo necessário para que as crianças sejam capazes de resolver os seus conflitos internos e para que estes, não as bloqueiem. 

As brincadeiras, os contos de fadas e os sonhos são formas de elaborar as fantasias inconscientes e de possibilitar o desenvolvimento da capacidade de fantasiar. 

Através do ato de brincar é permitido à criança explorar a realidade, conhecer o material com que se brinca e as próprias limitações. E para além do mais, possibilita a resolução dos seus conflitos intrapsíquicos e encontrar neles uma forma de expressão. Como Segal (1993) revela, este é um meio de apreender a distinguir entre o real e o simbólico, possibilitando que, nessas, ela possa ser mãe ou pai, cuidador ou cuidado, realizando um objeto novo. O que merece particular atenção são aquelas crianças que se inibem de brincar. 

Os contos de fadas são uma forma de falar das fantasias e de dar à criança a compreensão para as suas angústias, conflitos e pressões, enquanto as histórias próximas do real e das vivências, não fazem com que a criança se sinta entendida. 

Os sonhos, também são fundamentais na elaboração dos acontecimentos, tal como nos sugere por Bettelheim (2002) “uma pessoa que seja impedida de sonhar, mesmo que não seja privada de dormir, fica prejudicada na habilidade com a realidade, torna-se perturbada emocionalmente porque não é capaz de elaborar nos sonhos os problemas conscientes que a bloqueiam”. 

O que inevitavelmente coloca em tónica a frase do grande António Gedeão… porque afinal: “O sonho comanda a vida”!

Referências Bibliográficas:

Segal, H. (1993). Sonho, fantasia e arte. Rio de Janeiro: Imago Editora.

Bettelheim, B. (2002). A Psicanálise dos Contos de Fada (16º ed.). Rio de
Janeiro: Paz e Terra.

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