Este não é o filme que escolhi, Amor! – Reflexão sobre os acordos inconscientes nas relações amorosas

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As relações amorosas como num filme, tem as suas próprias personagens, enredo e banda sonora. Imaginamos duas pessoas que se amam, se apoiam e se entendem mutuamente. Imaginamos uma fonte de conforto e suporte emocional. Aquela cena, daquele filme, em que vemos o casal dançar, movendo-se em sincronia, como se fossem uma única pessoa. Um acordo não-verbal, em que ambos os parceiros se adaptam às necessidades e desejos um do outro sem perceberem.

No entanto, fazendo “avançar ” em alguns filmes bem reais, até ao fim de muitas relações, damos muitas vezes com uma das personagens principais confusa, com o sentimento de que o roteiro acordado no início da relação, lido com entusiasmo e à pressa – pois o seu potencial era muito promissor – foi assinado com confiança, sem ter em conta alíneas importantes que não podiam ser lidas, ainda, naquele momento. O momento em que a vontade é de diminuir a distância ao máximo para sentir o outro o mais perto possível. Rebobinando até meio desse filme, podemos observar os subtis (ou nem tanto) detalhes que levaram a este fim, em muitos casos prematuro, como os problemas de comunicação e desencontros de diferentes percepções. Estes roteiros, mais ou menos invisíveis, são os acordos inconscientes que regem a dinâmica entre os personagens principais.

Estes acordos podem ser baseados em questões não resolvidas do passado, traumas, expectativas e desejos inconscientes que influenciam a forma como os indivíduos se relacionam com os seus parceiros. Têm como fundo experiências passadas, expectativas, medos e inseguranças que cada um traz para o relacionamento sem perceber. Existem acordos em que um parceiro apoia o outro nas suas aspirações e sonhos. Trabalham juntos para alcançar objetivos em comum, como protagonistas de um filme que se unem para vencer o antagonista. Existem também acordos que são verdadeiros enredos de suspense. Um exemplo disso é quando um parceiro tem medo de expressar as suas necessidades e desejos, permitindo que o outro controle a relação, o que pode levar a ressentimentos e a uma toxicidade perigosa para o relacionamento.

Em alguns casos, estes acordos podem estar tão enraizados que o casal não consegue entendê-los. Como personagens num roteiro, seguem as ações e cenas que foram definidas para eles sem questionar.

É importante lembrar que estes acordos não são imutáveis. Eles podem ser alterados com tempo, esforço e compromisso. Assim como um diretor de cinema que ajusta o roteiro e a direção para obter o resultado desejado, os parceiros podem trabalhar juntos para mudar a dinâmica da relação. É possível criar um relacionamento mais saudável e feliz, baseado na compreensão mútua e no apoio emocional. É importante falar abertamente sobre sentimentos, medos e expectativas no relacionamento. Isso pode incluir discutir os papéis de cada parceiro no relacionamento e como lidar com os diferentes âmbitos da vida do casal (finanças e questões domésticas, como expressar amor e afeto, e assim por diante) – um/a terapeuta pode ajudar a explorar os seus acordos inconscientes, a melhorar a sua comunicação e a construir um relacionamento mais satisfatório e duradouro.

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