“A Velha Infância”

É inegável que os tempos mudaram e que as ocupações dos tempos nos primeiros anos de vida são diferentes aos da “velha infância”. A globalização e o avanço tecnológico trouxeram um mundo infinito de possibilidades de entretenimento e diversão, sem ter de se sair de casa e pior do que isso, do sofá.  O ecrã substituiu com mestria a rua, a bicicleta, a bola de futebol e todos os jogos “inventados”, que preenchiam as tardes e as férias escolares.

A par disto, temos assistido a um decréscimo acentuado da prática de atividade física nas crianças e jovens, o que tem sido visto como uma preocupação pela sociedade em geral e pelas Entidades de Saúde, em particular. Afinal, será que temos de repensar estes novos hábitos?

O desporto é vital para o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional da criança, contribuindo, desta forma, para uma melhor qualidade de vida, evitando o aparecimento de doenças futuras, tais como a obesidade, os diabetes, os problemas cardíacos ou as depressões. Por outro lado, promove um encontro entre a fantasia e a realidade, já que durante esse momento, a criança pode ser o que ela quiser, seja por vias da identificação ou da superação da personagem.

A infância é, então, um período marcado pelo “faz de conta”. O ingrediente principal da fantasia é o “maravilhoso”, algo que é exterior ao espaço e tempo normal e contínuo de todos os dias. Este elemento maravilhoso é composto por aquilo que nunca poderá existir no reino da “experiência empírica” (Swinfen cit. in Bastos, 1994). O cruzamento entre o “conteúdo real” e o “conteúdo maravilhoso” ensina “a criança o que mais necessita saber no seu estádio de desenvolvimento e que não é prejudicial permitir a fantasia que domine um pouco” (Bettelheim, 2002). Assim, é nos jogos e nas brincadeiras que as crianças estabelecem, que se pode dar este encontro entre o imaginário e o real. Onde pode, nem que seja por breves momentos, ser-se o que se quiser.

Portanto, é urgente recuperar as brincadeiras e os jogos de rua, limitando o tempo em que as nossas crianças e jovens estão conectadas aos ecrãs.

Porque “se antes era difícil mandar as nossas crianças para o quarto, o mais dficil hoje é tirá-las do quarto”.

Referências Bibliográficas:

– Bastos, G. (1994). Fantasia e realidade na literatura para crianças. Discursos, 1994, 8, p. 113 – 126.

– Bettelheim, B. (2002). A Psicanálise dos Contos de Fada (16º ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Compartilhe:

Pode também ler:

Daniela de Carvalho

Saudade

Em época de férias, parece estranho falar em saudade, tema característico da cultura portuguesa, manifestamente expressado pelo nosso Fado. No entanto, mesmo nas férias, parece ser um sentimento sempre presente; seja a

Ler Mais »