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No primeiro contacto com um paciente, é comum escutarmos a pergunta “Quanto tempo dura o tratamento?”. A questão do tempo é um fator que, por vezes, se torna um obstáculo para o início do tratamento. Com receio do longo percurso, alguns optam por nem começar. Esquecem, no entanto, do tempo que convivem com os sintomas e/ou com os comportamentos que os perturbam.
Obviamente, é compreensível o anseio por pôr fim ao sofrimento. Quando a Psicanálise surgiu, não demorou muito para surgir o interesse em encurtar o tempo do processo terapêutico. Como Freud (1913, p. 130) mencionou:
Encurtar o tratamento analítico é um desejo justificável, e sua realização, como veremos, vem sendo tentada em vários sentidos. Infelizmente, ela é combatida por um fator muito importante, nomeadamente a lentidão com que são realizadas mudanças profundas na mente – em última instância, sem dúvida, a “atemporalidade” dos nossos processos inconscientes.
Ferenzci passou a defender a postura ativa do terapeuta e, podemos dizer, impulsionou o desenvolvimento do que hoje conhecemos como Psicoterapia Dinâmica. Junto com Otto Rank (1925), Ferenczi publicou um livro dedicado a acelerar o processo psicanalítico. As teorias ferenczianas desempenharam um papel fundamental nas mudanças da técnica psicanalítica, e a Psicoterapia Dinâmica surgiu justamente com o objetivo de responder àqueles pacientes que procuram lidar com problemas específicos a curto prazo. “Principalmente quando os sintomas provocam prejuízos sociais e ocupacionais, os pacientes precisam de uma solução a curto prazo, sendo fundamental focar nos sintomas e no sofrimento que os levaram a procurar o tratamento (Becker, Paixão & Aragão-Oliveira, 2021, p. 100).
Além de buscar compreender o significado dos sintomas, com o objetivo de acelerar a resolução dos conflitos internos, a Psicoterapia Dinâmica sublinha o vínculo entre a realidade e as fantasias inconscientes do paciente e faz uso da confrontação e da clarificação como intervenções verbais adicionais à interpretação. A confrontação é usada para mostrar ao paciente a existência de contradições entre o seu discurso e o seu comportamento, ou entre distintos comportamentos. A clarificação serve para ajudar na elaboração mental da comunicação do paciente, devolvendo o conteúdo livre de componentes que podem distorcer o seu significado. Já a interpretação é, como ouvi de alguns professores ao longo do meu percurso académico, a “cereja do bolo”. É a explicação dos processos mentais inconscientes que estão por trás dos sintomas. Muitas vezes, as demais intervenções conduzem o paciente ao insight, isto é, a uma compreensão vivencial do que está a causar o sofrimento.
E como podemos estipular um tempo para a resolução dos conflitos internos de alguém? Não podemos. É preciso “tempo para estabelecer a aliança terapêutica, tempo para elaborar as resistências, tempo para enfrentar as lembranças traumáticas”. Cada processo terapêutico acontece de acordo com “a capacidade do paciente de processar e tolerar sentimentos e de elaborar e superar as resistências” (Becker, Paixão & Aragão-Oliveira, 2021, p. 115). Se cada pessoa é única, cada processo terapêutico é singular.
Sabemos que o tempo tem sido um obstáculo para a Psicoterapia Dinâmica, com questionamentos sobre quais seriam os motivos para optar por uma abordagem mais longa. Ao considerar as especificidades de cada caso, ao dar atenção ao tempo de cada paciente, não é possível determinar a duração do tratamento. No entanto, é justamente por respeitar a subjetividade do paciente que a Psicoterapia Dinâmica permite alcançar a consciência emocional e uma maior capacidade de autorreflexão, levando à identificação dos fatores que desencadeiam sintomas e comportamentos e ao desenvolvimento de recursos internos para lidar com possíveis adversidades. O tempo, portanto, é uma ferramenta essencial para o sucesso do tratamento. Como destacado num capítulo dedicado ao tempo das terapias psicanalíticas, “o tempo parece ser um argumento controverso, uma vez que estudos têm demonstrado que terapias de longo prazo levam a resultados de longo prazo” (Becker, Paixão & Aragão-Oliveira, 2021, p. 103).