Os Ecos do Vazio

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Todos nós sentimos vazios, pode não ser sempre, mas eles existem em nós, no nosso interior e cada um percebe o vazio da sua forma.

Quando estamos num espaço vazio, ao falarmos, existe eco; é isso que acontece no nosso interior.

Os vazios são desconfortáveis, maiores e, por vezes, infinitos. O que nós queremos quando sentimos vazios? Preencher esse espaço. E vale tudo… álcool, drogas, comida, jogo, pornografia, medicamentos… vale tudo desde que o vazio desapareça e os ecos deixem de existir! Quem vai à guerra dá e leva”, quem não vai e “apanha com os estilhaços” defende-se como pode.

É aqui que começa tudo, a busca pelo conforto, o fim do vazio e o fim dos ecos, essas vozes que se repetem “ao expoente da loucura, ora amargo, ora doce, para nos lembrar que o amor é uma doença quando nele julgamos ver a nossa cura!”, o amor pela sensação de vazio preenchido, de bem-estar, mas não procuramos essa sensação em nós! Temos a crença, por vezes, muitas vezes, quase sempre, que essa sensação nos será transmitida por algo externo a nós… será assim?

Sentir o vazio dói, olhamos e não vemos nada… procuramos, procuramos e nada existe! Existe, essa sim, a vontade de fuga, a vontade de não sentir. A dor de sentir várias vezes nos leva a um estado de recusa, a um comportamento de evitamento, a cometer excessos. Pode ser só uma fase? Pode. Mas essa vontade de estar constantemente a preencher o vazio pode-nos levar a construir um padrão interno e mostrar ao nosso interior a forma como nos vamos defender, ainda que da forma menos correta!

Só sabemos o que é ser preenchido porque experienciamos o vazio!”, aqueles clichés que, muitas vezes, não dizem nada, mas que tentamos usar como justificação lógica na nossa cabeça.

Nós, seres humanos, temos a capacidade de pensar e pensar sobre vazios é algo que temos de fazer e nos permitir sentir. Gostamos disso? Muitas vezes não, a maior parte das vezes não estamos estabilizados ou disponíveis emocionalmente para isso… mas sim… precisamos organizar o espaço vazio como se de uma decoração de uma casa se tratasse. E todos os pormenores contam, desde os móveis grandes ao porta retratos, e, tal como na decoração, com o passar do tempo, queremos alterar alguma coisa, temos necessidade disso. Estamos em constante mudança e evolução, aquilo que hoje nos preenche, amanhã poderá deixar de o fazer, deixa de cumprir a sua função e tudo bem, vamos voltar a pensar no vazio, por vezes não tão vazio como no inicio, mas sempre como um todo.

Quando o vazio é sentido, estamos nós capazes de nos acolher e confortar sem recurso ao exterior? Seremos nós capazes de ser o lar de nós próprios ou seremos, apenas, casa?

A sensação de casa não deve ser o trocada pela de lar; casa é passagem, lar é cheio, é porto seguro, é amor, tem memórias, tem sentimentos e é, acima de tudo, referência.

Que a transformação de casa em lar seja conhecimento, seja amor, compreensão, confiança e segurança. Que esta transformação seja um caminho agradável, seja acolhedor, que este caminho seja esperança… esperança de que, quando se fala, a voz é acolhida e não devolvida em eco, como num espaço vazio!

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