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O conceito de idealização, na teoria psicanalítica, define-se por um mecanismo de defesa que consiste em atribuir ao outro qualidades de perfeição, como uma forma de evitar a ansiedade ou os sentimentos negativos, como desprezo, inveja ou raiva. Torna-se, portanto, uma forma de perceber o outro de forma parcial, irreal, colocando-o num lugar impossível de ser alcançado.
A idealização pode ser benéfica, no sentido em que há uma identificação ao objeto idealizado, como um processo essencial para o desenvolvimento da personalidade. Por exemplo, a idealização dos pais, durante o desenvolvimento da criança, vai contribuir para o desenvolvimento de ideias. Sendo assim, a idealização normal é considerada um pré-requisito para um amor mais maduro.
Quando esta não se adequa à realidade, torna-se patológica, onde é caracterizada pela incapacidade de manter a constância no objeto, tendendo a ver os outros como bons ou maus, reforçando, assim, a idealização e a desvalorização. Esta idealização, é excessiva e aparece quando um indivíduo coloca a outra pessoa num pedestal, tornando-a perfeita, sem falhas e irreal. Isto pode ocorrer nas relações amorosas, de amizade, relações de trabalho ou, ainda, com o psicanalista. A idealização é, então, uma busca de perfeição e completude no outro dos seus próprios desejos e necessidades, criando uma imagem inatingível e idealizada.
Como é que a idealização se origina? Segundo Freud, a idealização surge quando o bebé, na ausência do seio da mãe, vai criar um seio para si próprio, um seio perfeito como uma defesa perante a sua incapacidade de tolerar a frustração. Assim, o seio bom transforma-se no seio ideal, que satisfará todo o desejo de voracidade, com uma gratificação imediata, ilimitada e sempre à disposição do bebé. Deste modo, a idealização tem o objetivo de proteção contra as angústias de frustração.
Como podemos, então, visualizar a idealização nos diversos aspetos da nossa vida?
Este processo pode acontecer, por exemplo, quando se está apaixonado e olha-se o outro com qualidades enaltecidas, quando no fundo são fantasias e necessidades do próprio sujeito projetadas no outro. Assim, o outro visto como ideal não existe, apenas existe na fantasia da pessoa. A idealização é um processo que, muitas vezes, pode levar à frustração e decepção, por exemplo, à desilusão com um professor, família, namorado ou psicanalista, pois a expectativa não corresponde à pessoa real. É, portanto, um pensamento que tem a função de evitar contactar com as frustrações e a própria realidade.
Levamos, assim, expectativas para as relações e, o querer que o outro seja como desejamos, pode levar ao desapontamento. Esta constante procura da completude não é possível e resta apenas encontrar alternativas saudáveis de forma a transformar esta realidade. Assim, o que não pode ser preenchido pelas idealizações, que transportamos para as nossas relações, podemos preencher com o trabalho, amigos, hobbies, desporto, religião, arte, etc.
“O bom já será suficiente, não precisará do óptimo” (Coelho Junior)